terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ariadne

Eu sei que a beleza
está nas tuas rosas
Mas o meu aprendizado
está nos espinhos
É seguindo o fio
de sangue quente
que escorre das minhas feridas
que redescubro meus caminhos
E me permito
sair do labirinto
dos teus braços.

domingo, 16 de agosto de 2009

Balanço

Eu não danço
no seu passo
Eu não passo
na sua rua
Eu não rôo
a sua corda
Eu acordo
e sorrio.
Mas se você
se trança
no meu braço
E pousa
na minha lua
Eu vôo
pra sua porta
E me afogo
no seu rio.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As sete maravilhas do meu mundinho

7-vinho tinto

6-Florença

5-a voz da Ella Fitzgerald cantando Summertime

4-a voz do Allan Rickman, ator britânico, dizendo ou cantando qualquer coisa

3-os primeiros 4 versos de The Wasteland
(April is the crueellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.)

2-café

1-"nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas como as tuas."

(e.e.cummings, aqui traduzido por Augusto de Campos)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Diálogo

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

(Rita Apoena - calaaaaro q não fui eu q escrevi essa belezura!!!)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Desfile

Mesmo que em algum lugar de meu ser
Eu sinta que ando
Sobre espinhos
Sobre brasas
Sobre cacos
Meu corpo desfila
Com suave voluptuosidade
Pra que minha dor
Não afague teu ego.
Em algum canto do teu ser
A tristeza do teu orgulho adivinha
Os espinhos
Os cacos
As brasas
Que te esperam
Logo ali na esquina.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Efêmero

Foi você quem teimou em me trazer
as notícias que eu não queria saber
quando eu já ia queimar esse jornal

Foi você quem invadiu
o conforto do meu cálido inferno
prometendo um céu que você não tinha para me dar

Foi você quem deu o salto maior que a perna
deixando o coração lá atrás, ainda na linha de partida
Enquanto meus sonhos lhe aguardavam na linha de chegada

Se suas unhas sangraram
foi porque, na ânsia de alcançarem minha garganta,
enredaram-se nas farpas que você mesmo havia enviado
na sua cruel distração

Você joga palavras ao vento
crê que são belas
sua foto sorri
seu coração congela
e sua vida segue...
sem rumo.

Branco

Tal qual um anti nietzschiano inconvicto
ele se alegrava
com a triste e duvidosa glória
de saber tirar dos outros
o prazer da solidão,
sem lhes oferecer companhia alguma

nem para lágrimas,

nem para risos,

nem para seus loucos e insípidos orgasmos


Assim, sem rumo,

sem âncora...

sem nada do que suas palavras

teimavam em dizer
para disfarçar o branco

do coração negro.